O mundo do Avestruz
MARCONI LUNA - Patrono da ABMasto
O avestruz (Struthio Camellus) é uma ave que pertence a ordem struthioniformes (aves ratitas) família struthionidae, seu esterno com 4cm de espessura, é uma grande placa óssea achatada que juntamente com as costelas protege os pulmões e o coração. A incapacidade de voar dessas aves acontece pela perda de uma estrutura denominada carena ou quilha, do osso esterno no qual se prendem os músculos peitorais responsáveis pelo batimento das asas durante o voo.
Em compensação, o avestruz possui uma musculatura dos membros posteriores extremamente desenvolvidas, o que o torna excelente corredor, podendo atingir até 70 km/h.
É a maior ave existente, com cerca de 2m de altura e 150kg. Os machos são maiores e de coloração preta, com as plumas da cauda e da ponta das asas brancas, enquanto que as fêmeas são predominantemente cinzas e menores. (Figura 1)
Figura 1 – Avestruzes machos (cor preta) e fêmeas (cor cinza), com Médico Veterinário Môzar Lemos.
A estrutiocultura, nome designado a atividade de criação racional de avestruzes e modernamente surgiu a interesse da sociedade, pelas plumas que eram obtidas das aves.
A utilização das plumas de avestruzes em vestimentas foi popularizada no mundo da moda no século XIX e primeiros anos do século XX, influenciada por Elizabeth I da Inglaterra e Marie Antoinette da França. Essas plumas eram importadas da África do Norte, Arábia Saudita e Palestina, sendo obtidas através de caça.
Em 1850 começa um programa de domesticação e criação desses animais na Ásia, Austrália, América do Norte. Em 1863 a criação do avestruz torna-se uma atividade agropecuária, após a introdução de sistemas de piquetes e cultura de alfafa na África do Sul.
São animais onívoros e se alimentam principalmente de grama, sementes, ração duas vezes no dia e água limpa e fresca.
Os maiores planteis estão situados África do Sul, Estados Unidos, China, Austrália, Espanha, Canadá e durante alguns anos no Brasil.
No Brasil, a criação do avestruz iniciou em 1994, quando o casal Laura Luchini e Mario Costa faz o primeiro pedido de importação de avestruzes ao Ibama. A importação acontece um ano depois, em maio de 1995, quando 12 filhotes de avestruzes Italianos desembarcam no País.
Em setembro de 1995, Carlos Roberto Figueiredo trouxe suas primeiras aves, vinda da Namíbia (200 filhotes de avestruzes) e chegaram no aeroporto do Galeão (RJ) e em seguida foram encaminhadas para Goiânia, por via aérea e depois viajaram mais 110km até Cezarina no Estado de Goiás .
Os pioneiros estão entre os Estados de São Paulo, Goias, no Estado do Rio de Janeiro (segundo Marconi Luna Presidente da Associação dos Criadores de Avestruz do Estado do Rio de Janeiro – ACAERJ) esses pioneiros foram Alvaro Mendes (Ponto do Avestruz) (Figura 2), Marcos Parpinelli (GranAvestruz), Wilson Reis (Reis Avestruz), na Cidade de Campos, Eduardo Queiroz de Cabo Frio (Campos do Avestruz), Michel Jourdan (Dom Philippe Avestruzes) todos entre os anos 1998 e 1999.
Figura 2 – Alvaro Mendes, Marconi Luna.
Em 2001 e 2002, surgem outros criadores e entre eles, Miguel Lasa (Lasa Avestruz em Magé), Marconi Luna (Estação do Avestruz – em Saquarema) (Figura 3 e 4); Alair Correia (Avestrucenter) em Cabo Frio, Johann Richard Eitel (Fazenda Coqueiros) (Figura 5). Para entrar no centro de incubação (Figura 6), é preciso, tomar banho e vestir uma roupa esterilizada e no seu interior da Estação do Avestruz podemos andar e observar todos os processos de incubação. (Figura 7).
Figura 3 – Juliana Luna na entrada da Estação do Avestruz
Figura 4 – Sede da Estação do avestruz do Avestruz
Figura 5 – Marconi Luna (Pres da ACAERJ), ladeado pelos criadores Michel Jourdan,
Eduardo Queiroz (à esquerda), Alair Corrêa (Vice Pres da ACAERJ) e Richard Eitel (à direita)
Figura 6 – Centro de Incubação
Figura 7 – Dentro do Centro de Incubação
Classificação Zoológica
A sistemática se torna relevante no momento da aquisição do plantel inicial. As aves que forem compradas deverão ser acompanhadas por um especialista no momento de aquisição de seus animais. No nosso criatório (Estação do Avestruz) com um plantel de 250 avestruzes, possuíamos um médico veterinário (Môzar Lemos – Prof da UFF) e uma médica veterinária (Flavia Ramos), que estava no criatório diariamente.
Os Avestruzes estão divididos em três grandes grupos que se baseiam na coloração da pele dos adultos.
- Red Neck – pescoço vermelho
Struthio camelus massaicus – da região do Kênia e Tanzânia
Struthio camelus camelus – do Norte da África
- Blue Neck – pescoço azul
Struthio camelus molybdophanes – da região da Somália, Kênia e Etiópia
Struthio camelus syriacus – considerada extinta na década de 1940, habitava os desertos das antigas Palestina e Pérsia
Struthio camelus australis – oriundo do sul da África, Zimbábue e Namíbia
- Black Neck ou African Black – pescoço preto
É variedade doméstica e o mais frequente no Brasil.
Struthio camelus var domesticus – oriundo do cruzamento entre subespécies syriacus camelus e australis
As raças red neck e blue neck são de maior porte e são muito agressivas e comercialmente o african black é o mais dócil
Incubação
O incubatório é um setor restrito aos que ali trabalham e possuem incubadora (Figura 8) e nascedouro de diversas capacidades especificas para incubação dos ovos.
A incubação de ovos requer cuidados específicos em todos as etapas do processo: coleta, limpeza, desinfecção, armazenagem, incubação, eclosão e nascimento.
O ovo necessita ser virado constantemente no processo de incubação, assegurando um desenvolvimento harmonioso para que não sofra aderência na casca, o que inviabilizaria o processo do crescimento embrionário. O embrião nutre-se, mas também produz dejetos, portanto, se o ovo não for virado para o embrião ter acesso a albumina fresca, este poderá morrer por intoxicação ocasionada pelo seu próprio dejeto. (Figura 9)
Figura 8 – Incubadora na Estação do Avestruz
Figura 9 – Ovos prontos para serem virados na incubadora
Filhotes
A implantação da rastreabilidade inicia-se pelo certificado de origem, caracterizada pela identificação individual dos animais por meio de número único.
Na estrutiocultura, existem diversos tipos de identificadores, como brincos no pescoço, microchips e leg bands (anilhas)
Os filhotes entre idades de 2 dias à 30 dias são encaminhados para cria (Figuras 10 e 11) na Estação do Avestruz (RJ). Em seguida irão para piquetes que poderão ser formados de diversos tipos de grama e permanecem até aos 90 dias; depois poderão permanecer em piquetes com mais de 2.500m² onde cada ave terá em torno de 30/50m²disponíveis.
Depois de 3 meses inicia a fase de recria, e são feitos piquetes com mais de 2.500m² e uma área para cada ave de 100m² ou mais.
Figura 10 – Cria
Figura 11 – Filhotes na cria
Em seguida os avestruzes irão para piquetes com 4.000m2 e podem permanecer até 2 anos, como essas aves na Estação do Avestruz (figuras 12,13, 14, 15 e 16)
Os avestruzes tornam-se sexualmente prontos entre 2 e 4 anos de idade; as fêmeas amadurecem cerca de 6 meses antes dos machos.
A estação de acasalamento começa em março e termina antes de setembro. A fêmea se abaixa no chão e é montada por trás pelo macho.
A expectativa de vida é de 50 anos em média, podendo variar de 30 à 70 anos e quando estão na idade da reprodução, elas são colocadas em casal em cada piquete.
Figura 12 – Marconi Luna e Avestruzes
Figura 13 – Lucy Luna, Marlene Luna, Lourdinha Luna e Marconi Luna
Figura 14 – Cristiano Luna no piquete com aves
Figura 15 – Mariangela Luna em frente ao piquete
Figura 16 – Oseas Freitas (Tratador na Estação do Avestruz)
Abatedouro
No Rio de Janeiro foi fundada a Rio Avestruz Ltda, composta por 13 criadores de avestruz e nessa ocasião Marconi Luna era Presidente da ACAERJ e com autorização do Ministério da Agricultura em 2005 iniciamos o abate (Figura 17) no abatedouro FrigoBoi Boi (Sr. Letelbe Vasconcelos) na cidade de Quissamã no Estado do Rio de Janeiro e nessa ocasião Marconi Luna com os criadores de avestruz no abatedouro (Figura 18); entretanto a empresa DFX Agro, já estava abatendo avestruz no município de Três Rios (RJ).
Figura 17 – Marconi Luna com criadores no abatedouro na ocasião do abate
Figura 18 – Criadores de avestruzes no abatedouro
Após o abate dos avestruzes houve uma festa em Quissamã para comemorar esta etapa,
para sedimentar a estru;ocultura no Estado do Rio de Janeiro e nessa ocasião estiveram presentes
autoridades e convidados (Figuras 19 e 20).
Figura 19 – Miguel Lasa (Secretário da ACAERJ),Marconi
Luna, Lucy Luna, autoridades e Letelbe Vasconcelos
(FrigoBoi Boi) em Quissamã e Jorge Correia (Struthiòtec)
Figura 20 – Marconi Luna, Miguel Lasa, Dr. Plinio
Leite (Secretaria de Agricultura do RJ) e autoridades
Mercado
Os principais produtos para o comércio são:
1 – Carne – um avestruz produz entre 30 a 45 quilogramas de carne, que ao contrário de outras aves é
vermelha (Figura 21). O avestruz alcança o peso de abate por volta de 12 meses.
Cada 100 gramas de carne de avestruz possui 96,9 calorias (Kcal), enquanto a mesma quan;dade
de carne de peru apresenta 135 (kcal), de frango 140, de boi 240 e de porco 275 (kcal). Esses valores
foram divulgados pela Nutritive Value of Foods USDA em 2001.
Analises da Universidade de São Paulo atestam 100 gramas de carne de avestruz possuem 36mg
de colesterol, de frango 89 mg, peru 86mg, boi 118mg, e de porco 86mg de colesterol.
Outras analises divulgadas pela Nutritive Value of Foods da USDA atestam que 100 gramas de
carne de avestruz possui menos de 0,4% de gordura saturada, 1,2% gordura total e 22% de proteínas,
enquanto a mesma porção de carne de boi possui 6,4% de gordura saturada, 15% de gordura total e 21%
de proteínas.
Estamos diante de um ótimo alimento, já que contem alto teor de ômegas 3,6, as quais
contribuem na diminuição do colesterol das artérias.
O alimento é ideal para gestantes, crianças, devido o seu alto teor de ferro, cálcio, magnésio e
fósforo. Para idosos é indicada por ser muito macia, com fácil digestibilidade, devido a baixa quantidade
de gordura saturada e de colágeno: Para os atletas, a carne de avestruz é muito indicada, por ser livre de
hormônios de crescimento e de alto valor proteico.
Figura 21 – Carne de Avestruz
2 – Couro – propriedades de grande beleza e exotismo devido as marcas deixadas pelos orificios de
inserção das plumas, sendo um couro muito macio que da um leve caimento bem como de alta resistência
e durabilidade.
Comercialização: grandes grifes europeias e até grifes brasileiras estão utilizando o couro de
avestruz na confecção de sapatos, bolsas, cintos, jaquetas, saias e até garrafas térmicas ganham o
sofisticado toque do couro de avestruz. (Figura 22).
Figura 22 – Bolsa e bota de couro de avestruz
3 – Plumas – O Brasil é um grande usuário de plumas, estas são consumidas pelas industrias de
espanadores (Figura 23) e para produção de fantasias do carnaval (Figura 24). A Estação do Avestruz
(Marconi Luna) doou plumas para rainha de bateria Ângela Bismarchi, da escola de samba Unidos do
Porto da Pedra.
As plumas da cauda e da ponta das asas do macho são plumas brancas sendo as mais valorizadas.
Figura 23 – Espanador
Figura 24 – Plumas de avestruz
4 – Ovos – O ovo de avestruz pesa entre 1,2kg até 1,8kg. Os ovos não fecundados são utilizados para o
artesanato. Cada fêmea põe de 40 a 60 ovos por ano e os ovos são incubados por 42 dias.
Aqui estamos mostrando os principais produtos do avestruz feitos pelos criadores da ACAERJ
(figura 25) e ovos pintados oriundos da Estação do avestruz (Figura 26).
Figura 25 – Produtos do avestruz realizados pelos criadores da ACAERJ.
Figura 26 – Ovos pintados oriundos da Estação do Avestruz
5 – ÓLEO – O óleo é extraído de uma bolsa de gordura presente na região abdominal do avestruz,
podendo depois ser encontrado em forma de óleo, cápsulas e em cremes (Figura 27), nas lojas de
produtos naturais ou na internet. É rico em vitaminas A,B, D3 e ômegas 3,6,7,9; além de moléculas de
gordura chamadas de alquilgliceróis, as quais possuem atuação no sistema imunológico.
Figura 27 – Frasco com cápsulas e creme de avestruz
REFLEXÕES
Na mitologia popular, o avestruz é famoso por esconder sua cabeça na areia no primeiro sinal de
perigo. Então o mito pode ter surgido do fato de que, de uma certa distância, quando avestruzes se
alimentam, eles parecem estar enterrando sua cabeça na areia pois eles engolem areia e pedras para
ajudar a esmagar sua comida.
A carne do avestruz há alguns anos o kilo custava 80 reais; entretanto anos depois o kilo estava
por 30 reais; então o abate do avestruz pode ser realizado com 12 meses e por conseguinte esses meses
os custos para manutenção do avestruz já estavam superiores por ocasião do abate, sendo o preço da
ração e o manejo das aves os motivos, para o desanimo dos criadores dos avestruzes.
Decorrido um certo tempo, nota-se que alguns criadores se aventuram na etapa de
industrialização, e começam a abater animais, porém, mais uma vez desprovidos da consciência de
consolidar a cultura de consumo dos produtos do avestruz, e na tentativa de ter lucro rápido, repassam
para etapa de industrialização a mesma ideia da etapa de formação do plantel, vendendo os produtos
(principalmente carne e pele) a preços especulativos e completamente fora da realidade do mercado
consumidor.
Por outro lado, os criadores que continuaram no setor, começam a perceber dificuldade também
na venda das aves para abate, pois como a demanda de consumo é muito pequena, (pois não há a cultura
de consumo de tais produtos), não conseguem vender seus animais com liquidez necessária e preço justo.
Como resultado o estrutiocultor se vê desesperado e sem alternativa de venda de sua produção, percebe
que dia a dia os animais continuam a crescer, o consumo de ração vai aumentando, os gastos de manejo
se acumulam, e o capital de giro segue diminuindo; bem o resto da história pode ser encurtado: o setor
entra em colapso.
A Estação do avestruz permaneceu com a criação dos avestruzes de 12/09/2002 até 28/11/2012,
sendo anos de muito trabalho tentando sedimentar a criação, o abate e a comercialização dos produtos
do avestruz.
No Brasil ainda existem criatórios de avestruzes, nos Estados de São Paulo, Goiás, Mato Grosso,
Mato Grosso do Sul, Ceará, Pernambuco, Rondônia; tentando consolidar a criação do avestruz, cuja carne
é tão saudável para nosso organismo.
LITERATURA SUPLEMENTAR
1 – Kornefeld ME, Elmôr RA, Carrer CC – Avestruzes no Brasil. Incubação e criação de filhotes – Brasil
Ostrich - 2001
2 - Carrer CC, Elmôr RA, Kornfeld ME, Carvalho MC – A criação do avestruz – Terra Comunicação Editorial –
2004
3 – Souza JDS – Criação de Avestruz – Aprenda Facil Editora – 2004
4 – Luna M, Lemos M – Informa;vo ACAERJ – 2005
5 – Luna M, Lemos M – Rio Avestruz – O gado do futuro 2005
6 - ACAB – Anuário da Estrutiocultura Brasileira 2005/06. Terra Comunicação Editorial 2005/06
7 – Luna M, Lemos M – Abatedouro de avestruzes no Estado do Rio de Janeiro – ano 3 – nº1-2006
8 – Junior AR – Anuário da Estrutiocultura Brasileira OM Designers gráficos – 2006/07
9 – Luna M, Lemos M – Abate de Avestruzes no Estado do Rio de Janeiro – Informativo ACAERJ – Ano 4 –
nº 1 – 2007
10 – Luna M – Mercado em escalada de crescimento. (criação de avestruzes no Estado do Rio de Janeiro
se estrutura com a legalização dos estabelecimentos para abate das aves) – Rio Rural – 24 (fevereiro) 2008
11 – Luna M – Carne está valorizada (baixo índice de gordura e colesterol torna o alimento uma boa
alternativa para dietas balanceadas) Rio Rural – 2008
12 – Minari N M, Ajg, Mcs – Visibilidade da Estru;ocultura no Brasil: Um enfoque nos custos de produção,
Revista cientifica AJES, Juina/MT, V10, Nº 20 p 230-242, jan/jun.2021